#3.5 Bookclub - Dilúvio das Almas, de Tito Leite


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Nossa leitura (parte 2) de junho é "Dilúvio das Almas", de Tito Leite.
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Dilúvio das Almas (2022)
por Tito Leite
Na voz que se destaca: Leonardo, protagonista que retorna a sua cidade situada no Nordeste e percorre um labirinto de descaminhos em um ambiente semiárido, envolto em uma trajetória de privações passadas, elucubrações solitárias e um devir repleto de coragem que guia seus passos a encontros inusitados.
Nesse romance de estreia do poeta, monge beneditino e prosador Tito Leite, logo de saída, nota-se que o autor aposta alto em apresentar ao leitor uma prosa que costura distintos tons que perpassam o poético: “Um som machuca meu cérebro. Assemelha-se a uma orquestra desafinada tocando a Nona sinfonia”, o realismo cru e cenas de violência das personagens. Excessos conscientes do uso da linguagem são tensionados nos dizeres filosóficos e líricos, “Um homem de rotina é um animal previsível”, que vão de encontro a um passado de reverberações, sintetizadas na aridez dos diálogos e na memória que se move de forma inquieta.
O extremo de situações brutalizadas se emaranha em cenas da narrativa. Uma memória que se despedaça, como se estivéssemos acompanhando um filme na sala de cinema, e fossemos jogados de um lado para outro pela história que exige, em cortes abruptos, atenção redobrada às citações que permeiam a poética de passagens centrais do romance e as reflexões de cunho filosófico.
O protagonista de Dilúvio das almas repensa e retorna ao universo que criou para si e à sua relação com esse espaço primordial, que é o ambiente de partida, e de antigos valores, e laços que são retomados entre fatos de grande violência. O horror não tem trégua porque é inerente à experiência presente. Como se a ideia fosse sempre ir além do esperado, dos “descaminhos”, Tito deixa claro também que tem como essencial em sua narrativa contar uma história que prenda o leitor pela dinâmica hibrida das vozes.
Leonardo, entre os seres de seu criador conduz de forma audaz as rédeas de suas decisões, que se avolumam no decorrer da ficção se entrelaçando à destruição da existência de distintas personagens e de seus desejos latentes. Tito em seu livro privilegia a primeira pessoa, a enxurrada de uma voz que em seus movimentos mostra sensibilidade, estreitamentos existenciais, profunda dicção imagética e compreensão do concreto estabelecido no dia a dia de quem vive na falta. Dilúvio das almas retoma uma tradição de narrativas centradas no ambiente nordestino e o atualiza pensando o contemporâneo, as tensões da linguagem em sua pluralidade. Há marcas histórico-sociais, que reverberam no manejo de Tito Leite narrar, que é vigoroso e nem um pouco benévolo.
Por Marcelo Torres. Disponível em https://revistacult.uol.com.br/home/diluvio-das-almas-de-tito-leite-e-outros-lancamentos/

#3.5 Bookclub - Dilúvio das Almas, de Tito Leite